O Melhor treinador do Ano em Portugal

Desde há uns anos para cá, Portugal vem sendo um viveiro de talentos da componente técnico-tática do futebol. A emancipação à escala europeia e mundial de José Mourinho foi o expoente máximo deste talento e conferiu ao “treinador português” um selo de qualidade que, agora, é reconhecido fora de portas. Se em Portugal os treinadores eram, antes, vistos como meros peões de um jogo em que os jogadores eram donos e senhores do destino das equipas, hoje, vemos treinadores a assumirem um papel de destaque no seio das instituições que representam, em que a sua preponderância nas conquistas suplanta, por vezes, a dos jogadores que durante uma época entregam corpo e alma ao escudo que carregam ao peito.

À semelhança do que se observou noutros anos, também 2014 foi um ano próspero de surpresas, trazendo alguns nomes para a ribalta do futebol português e confirmando o talento de outros, que já há algumas épocas vinham apresentando um trabalho de excelência.
Não obstante a emergência de diversos novos talentos ao longo deste ano civil que brevemente irá findar, a distinção de Melhor Treinador do Ano em Portugal vai para um velho conhecido de todos nós. Aliás, pouca margem de discussão haveria neste concurso no presente ano e, portanto, tomar uma decisão foi “peaners”!

Venerado por uns, desprezado por outros, Jorge Jesus foi, indiscutivelmente, o melhor treinador do ano em terras lusas em 2014. O “mestre da tática” consagrou este ano toda a sua competência e qualidade, com uma campanha que está ao alcance de poucos. Ainda que disponha de recursos mais férteis e profícuos que a grande maioria dos seus oponentes, 2014 marcou o ano em que o português interrompeu de forma hegemónica o reinado do Futebol Clube do Porto, ao conquistar todos os troféus internos que havia para conquistar – Liga Zon Sagres, Taça de Portugal, Taça da Liga e Supertaça Cândido de Oliveira. Às conquistas acrescenta-se, ainda, o facto de ter conseguido a proeza de arredar, em confronto direto, o seu maior rival (no que à disputa por troféus diz respeito) de duas das quatro competições nacionais que ambos os clubes disputam.
Se o reportório nacional não bastasse, Jorge Jesus alcançou, ainda, a sua segunda final europeia pelo Benfica, ainda que tenha saído derrotado, o que, no entanto, não menoriza o trajeto glorioso dos encarnados até à final de Turim, pelo qual eliminaram equipas como a Juventus e o Tottenham.
Na época que está em curso, o Benfica de Jorge Jesus surge novamente como um candidato temível. Apesar de ter visto o seu plantel desfalcado na janela de transferências de verão, Jesus está determinado em inverter o rumo da história e em revalidar o título de campeão nacional e, finalmente, alcançar o tão almejado título de bicampeão nacional que foge das águias há mais de 30 anos – os encarnados alcançaram, pela última vez, tamanha façanha na época 1983/1984. À entrada para 2015, o Benfica surge como favorito à conquista do título e lidera a tabela com 6 (valiosos) pontos de vantagem sobre o segundo classificado, tendo firmado, vincadamente, as suas pretensões com uma vitória histórica no Estádio do Dragão sobre o Porto por duas bolas a zero (a última vitória do Benfica sobre o Porto no Estádio do Dragão, num jogo a contar para o campeonato nacional, remontava ao ano de 2005).
Além dos títulos e dos grandiosos feitos alcançados por Jorge Jesus e pelos seus pupilos, a verdade é que o treinador português tem revelado ser o técnico mais competente na componente tática do desporto rei em Portugal. Nenhuma equipa em Portugal, ocupa com tamanha imponência o terreno de jogo, nem interpreta os momentos do jogo tão bem como o Benfica e todos estes atributos são resultado da perícia e a astúcia demonstrada nos últimos anos por Jorge Jesus.
O ano de 2014 revelou-nos também uma outra faceta de Jorge Jesus. Mais acomodado e confortável com a pressão a que está sujeito, o treinador não se coíbe em exaltar o seu papel nas conquistas do clube e demonstra ter “aprendido” a fazer uso da comunicação social em seu proveito, não sendo raras as vezes em que vemos o treinador fazer propaganda à sua própria pessoa e às suas qualidades, em algo que se assemelha a um verdadeiro culto da personalidade e que indicia que o treinador pretende cultivar a imagem de messias da nação benfiquista.
Contra factos, não há argumentos e Jorge Jesus mostrou este ano que está num patamar qualitativo muito superior aos seus concorrentes. No entanto, não serve tal afirmação para descredibilizar ou descurar o trabalho desenvolvido por outros treinadores, também ele meritório de destaque no presente ano. Nesta lista de prodigiosos talentos que se destacaram em Portugal, surge como cabeça de série Marco Silva.
Depois do 5.º lugar alcançado na época 2012/2013, Marco Silva conseguiu superar as mais promissoras expectativas auguradas e conquistou um lugar no coração dos adeptos do Estoril de Praia ao alcançar o 4.º lugar na tabela classificativa da Liza Zon Sagres. Com um plantel apetrechado de talentos por descobrir e lapidar, Marco Silva engenhosamente formou um dos conjuntos mais consistentes e entrosados da liga portuguesa. Ao contrário do que é costume ver em Portugal, o Estoril de Marco Silva apresentava-se como uma equipa que jogava com critério, com movimentos de transição simples e bem definidos e surgiu como uma lufada de ar fresco no futebol luso pela atratividade do seu jogo. As boas prestações da sua equipa valeram-lhe uma promoção, tendo sido apontado como o treinador do Sporting para a época 2014/2015, numa escolha que encontrou unanimidade entre adeptos e direção dos leões, cabendo-lhe a árdua tarefa dar seguimento ao bom trabalho iniciado por Leonardo Jardim. A experiência de Marco Silva em Alvalade tem sido atribulada (muito devido à autocracia imposto por Bruno de Carvalho), ainda que, até ao momento, não tenha defraudado as expectativas – é o 5.º classificado da liga a 1 ponto do 3.º e 4.º classificado. Todavia, ainda não conseguiu fazer do Sporting um conjunto temível aos olhos dos adversários, nem um sério candidato ao título de campeão nacional, pese embora o facto de ter conseguido formar uma equipa competente e capaz de se bater olhos nos olhos com os seus adversários diretos. Não obstante a apática campanha doméstica dos leões, os pupilos de Marco Silva apresentaram-se a um bom nível na fase de grupos da Champions League e conseguiram devolver alguma credibilidade europeia ao clube de Alvalade.
Dando continuidade à lista de treinadores em destaque no ano de 2014, encontramos, nada mais, nada menos, que o predecessor do atual treinador do Sporting, Leonardo Jardim. Treinador de créditos firmados nas suas passagens pelo Braga e Olympiakos, foi a aposta do, então, novo e polémico presidente Bruno de Carvalho e demonstrava ter o estofo e as qualidades necessárias para devolver ao Sporting o estatuto de “grande”. Para surpresa de todos, fê-lo com mérito e distinção, terminando a época num excecional 2.º lugar da tabela classificativa. A sua qualidade foi novamente reconhecida fora de portas e levou-o a arriscar numa nova aventura no estrangeiro, desta feita, no principado do Mónaco, integrando o elenco de técnicos portugueses que continuam a elevar o nome de Portugal pela Europa fora. Ainda que os seus feitos em França não contem para este concurso, é de destacar o trabalho que tem vindo a realizar. Apesar da campanha na Ligue 1 ser alvo de destaque pela negativa (é 5.º classificado, a 9 pontos do 1.º classificado, numa época que se pretendia que os monegascos derrubassem o Paris Saint-Germain do trono), conseguiu apurar o conjunto do principado francês para os oitavos-final da Champions League, na época em que regressaram à liga milionária (a última participação na competição teve lugar há 10 anos, na época 2004/2005), com o melhor registo defensivo da fase de grupos da prova – 1 golo sofrido nos 6 jogos disputados.
O 4.º, e penúltimo técnico desta lista, partiu, também, para voos mais ambiciosos no verão de 2014. Nuno Espírito Santo foi um dos treinadores em destaque neste ano civil pelo trabalho notável que desenvolveu em Vila do Conde, ao garantir a presença nas finais da Taça de Portugal e Taça da Liga e dando a oportunidade ao Rio Ave de disputar (já sob o comando de Pedro Martins) a Supertaça Cândido de Oliveira e de se estrear nas competições europeias, mais concretamente, na Liga Europa. No campeonato não foi além do 11.º lugar, no entanto, tanto a direção como os adeptos, terão dado pouca importância a este aspeto. Em Espanha, à frente do Valência, Nuno Espírito Santo pretende seguir as pisadas do Atlético de Madrid e ameaçar a supremacia de Barcelona e Real Madrid. Assumindo-se como um improvável candidato ao título, a campanha do Valência tem sido positiva, no entanto, o mais provável é que o bipartidarismo dos catalães e dos merengues volte a vigorar já esta época.
Por fim, a completar o pódio, encontramos Rui Vitória, um exemplo de resiliência e de dedicação neste ramo. O técnico ribatejano tem em braços um dos projetos mais desafiantes que um treinador pode enfrentar, e que, de certo modo, se assemelha a um dos desafios do, mundialmente famoso, videojogo Football Manager. Obrigado a recorrer, por motivos de natureza económico-financeira, a jogadores de formação e de equipas de escalões secundários, Rui Vitória tem desempenhado um papel notável e de contínua ascensão à frente dos vimaranenses. À frente da equipa técnica do conjunto da cidade berço desde 2011, tem realizado épocas tranquilas, terminando sempre em posições confortáveis na tabela classificativa, chegando, por vezes, a aspirar a qualificação para as competições europeias. Se a época 2013/2014 lhe reservou o 10.º lugar na tabela, a nova época está a ser marcada pela bonança e os vimaranenses terminam o ano de 2014 na 4.ª posição do campeonato, em igualdade pontual com o seu eterno rival, Sporting de Braga, e 3.º classificado da liga.

Por fim, considero justo e meritório destacar dois treinadores pelo desempenho positivo que têm vindo a evidenciar nesta época que está em curso, mas que, no entanto, não apresentam, ainda, argumentos suficientes para figurarem nesta lista de condecoração. O primeiro técnico a congratular é Paulo Fonseca. Depois do pesadelo que viveu no Futebol Clube do Porto, regressou a uma casa onde foi feliz e parece estar a ressuscitar a carreira com mais uma campanha impressionante à frente do Paços de Ferreira. Assumindo as rédeas de uma equipa que terminou a época de 2013/2014 sob a condição de relegado à divisão secundária do futebol português (viria a beneficiar do alargamento do número de equipas a participar liga de 16 para 18 equipas), termina o ano no 6.º lugar da Liga Zon Sagres, assumindo-se como uma das surpresas da época. O outro treinador a destacar, é Lito Vidigal. Depois de uma época para esquecer do Belenenses (terminou a época 2013/2014 como 14.º classificado da liga), Lito Vidigal foi capaz de formar um conjunto tecnicamente dotado que está a realizar uma campanha bastante positiva e atrativa, entrando em 2015 no 7.º lugar da classificação, em igualdade pontual com o Paços de Ferreira, e contando com o concurso de duas das principais figuras do campeonato até ao momento – Miguel Rosa e Deyverson.
Quem sabe, talvez para o ano estes dois treinadores apresentem argumentos suficientemente fortes para integrar a lista de melhores treinadores a atuar em Portugal. O que é certo, é que o futebol é um desporto de surpresas e num país como Portugal, treinadores e jogadores encontram condições para despontarem e, até mesmo, ressuscitarem as suas carreiras, não sendo, portanto, estranho que todos os anos assistamos à emergência de novos valores na principal competição de futebol do nosso país que, cada vez mais, apresenta sintomas de melhoria e prosperidade no que respeita à área do comando técnico.

Visão do Leitor (perceba melhor como pode colaborar com o VM aqui!): Pedro Pateira

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