Três notas prévias: 1º triunfo dos leões num clássico na era Bruno de Carvalho; o FC Porto aumentou o jejum em Alvalade (não derrota o Sporting desde 2008) e vai acabar a época sem vencer em Lisboa; Excelente atitude dos adeptos do clube leonino ao aplaudir Helton, quando o brasileiro (um dos melhores profissionais que passou por Portugal) saiu lesionado.
Num clássico que pode ser decisivo nas contas finais do campeonato, principalmente no que diz respeito ao 2º lugar (que dá acesso directo à Liga dos Campeões), o Sporting foi melhor e já vê o FC Porto a 5 pontos de distância.
Encontro pouco emotivo, nem sempre bem jogado (foi evidente a falta de qualidade de alguns intervenientes), com os azuis e brancos a terem mais oportunidades claras de golo, mas com os leões a estarem quase sempre por cima do jogo e a justificarem o triunfo. Slimani marcou o único golo do jogo, a dupla Dier-Rojo esteve a um nível muito alto, Jefferson na esquerda também esteve em destaque, mas voltou a ser William a grande figura (encheu o campo, tanto no capítulo defensivo como ofensivo). Do lado do FC Porto, voltou a ser mais do mesmo: demasiados passes falhados, demasiados erros na saída de bola e ineficácia no ataque (Jackson falhou 2 golos feitos). A nível individual, Quaresma espalhou magia na 1ª parte (também era o único elemento em campo que conseguia criar situações de desequilíbrio), mas praticamente toda a equipa esteve muito aquém do que se exigia (Danilo completamente perdido, Defour falhou 70% dos passes, Carlos Eduardo nem se viu). Quanto à partida, o 1º tempo foi dividido. Os leões tiveram sempre mais bola no último terço do FC Porto – muita intensidade e capacidade de pressão (a fraca qualidade dos azuis e brancos na saída de bola também ajudou), mas não conseguiram criar uma verdadeira oportunidade de golo. Apesar de terem apanhado a defesa portista em desequilíbrio várias vezes faltou sempre uma melhor definição. Já os azuis e brancos chegaram ao intervalo com a sensação de que podiam estar em vantagem no marcador. Mesmo com o maior domínio dos leões, a nível de oportunidades só deu Porto. Aos 15m Quaresma fez o que quis de Cédric serviu Varela, mas o ex-E. Amadora permitiu a defesa de Patrício, aos 28 o Mustang atirou à barra depois de mais uma iniciativa individual e já perto do intervalo, Jackson em boa posição, de cabeça, atirou ao lado. Na 2ª parte tudo foi diferente. O Sporting entrou mais forte, Mané criou logo uma oportunidade num canto (Slimani falhou a recarga a uma excelente intervenção de Helton), e chegou mesmo à vantagem. William isolou Martins e o médio (que estava em posição irregular) serviu Slimani que sozinho de cabeça não perdoou. Com o golo, o jogo mudou (ficou sempre a ideia que a equipa que marcasse 1º ia ganhar, porque as equipas estavam a apresentar pouca qualidade para desequilibrar), o FC Porto acusou a desvantagem e nunca pareceu ter forças para mudar os acontecimentos. Já o Sporting passou a jogar com o tempo do jogo e até final houve pouca história. Infelizmente, um dos destaques foi a grave lesão de Helton, o que afectou ainda mais o Porto, os outros foram as duas oportunidades dos azuis e brancos: 1º Jackson não aproveitou um erro enorme de Patrício (deixou a bola passar por baixo das pernas, mas Cha Cha Cha com a baliza aberta permitiu o corte de Dier), e já nos descontos Ghilas trabalhou bem já dentro da área mas rematou ao lado; e a expulsão de Fernando já em tempo de compensação.
Destaques:
Sporting – vitória quase histórica (por ser a 1ª na era de Bruno de Carvalho num clássico, por ser a 1ª de Jardim frente ao Porto e porque os leões não derrotavam o rival desde 2010), que assim quebra uma espécie de maldição, e deita por terra a teoria de que o Sporting é inferior no confronto directo perante os mais fortes adversários. A equipa leonina teve uma circulação de bola quase exemplar, geriu os ritmos de jogo, alternando períodos de pressão intensa com outros em que se limitava a tapar, com sucesso, os caminhos ao adversário, pressionou bastante e com critério o último reduto do Porto, recuperando muitas bolas e não permitindo aos dragões saírem a jogar, e não fosse uma clara falta de qualidade no último passe, em especial dos extremos, podia ter construído outro resultado. A defesa esteve coesa e raramente deu espaços, com destaque para Rojo. William Carvalho encheu o campo, e Adrien voltou à forma de há uns meses, reforçando a ideia de que o ritmo leonino é pautado acima de tudo por ele. Os extremos, pese o bom trabalho defensivo perante os laterais azuis e brancos, decidiram mal no ataque, faltando esclarecimento (ou outra coisa) na altura de finalizar a jogada. Com esta vitória, e exibição a condizer, após semana turbulenta, o Sporting ganha um alento especial para o que resta do campeonato, e fica com uma mão na Liga Milionária.
FC Porto – 5ª derrota na época para o campeonato (quando o criticado VP só perdeu uma vez em 2 anos) e basicamente não foi aquele conjunto azul e branco que costuma ir a Lisboa, nos momentos decisivos, arrumar com o rival directo. Os dragões, que já estão a 5 pontos do 2º lugar, raramente pegaram no jogo, e tirando as habilidades de Quaresma, nunca desequilibraram o último reduto leonino. Muitos passes falhados, perdas de bola em duelos individuais e um fio de jogo ofensivo perto do inexistente, demasiadas fragilidades numa equipa que a esta altura devia estar a lutar pelo título, mas que parece irremediavelmente encostada ao último lugar do pódio. A má circulação de bola também muito se deve à inabilidade dos centrais em saírem a jogar, quer em progressão quer em passe, e ao facto de Carlos Eduardo ter andado escondido. A defesa também não ajudou, dando muito espaço, tanto na zona central como nas alas. Ainda assim, o Porto dispôs de algumas chances de facturar, mas Jackson voltou a mostrar a ineficácia que o acompanha esta temporada, falhando pelo menos duas bolas de baliza aberta. Quaresma foi o melhor na primeira parte, desfazendo Cedric, e Fernando foi o espelho de um conjunto algo perdido, ao ser expulso de modo infantil. Agora, restam as Taças para salvar uma época que tem deixado algo a desejar.
William Carvalho – o melhor em campo, simplesmente. Defensivamente marcou a sua presença (foi dos poucos a não ser ultrapassado por Quaresma no 1×1), cortando linhas de passe e desarmando quem o tentava ultrapassar. Depois, consegue juntar sempre uma saída de bola eficiente, mesmo quando rodeado por diversos oponentes e inclusive quando aposta no transporte, chegando a ser entusiasmante a maneira como protege a bola e sai das embrulhadas com a bola jogável.
Quaresma – é o elemento “mais” do Porto, o que por si só dá que pensar. Criou as melhores oportunidades da 1ª parte, fruto de jogadas individuais em que mostrou toda a sua técnica. Deu um golo a marcar a Varela, mandou um tiro ao barrote, fez o que quis de Cedric no 1º tempo, tornando-se o único foco da atenção da defesa leonina. Na segunda parte desapareceu, e com ele, desvaneceu-se o jogo ofensivo portista.
Dier/Rojo – o argentino foi intratável, venceu os duelos individuais, tanto pelo chão como pelo ar, e ainda tapou os espaços deixados por Jefferson. Ao contrário de outros jogos, não teve “paragens”, mostrando sempre uma leitura de jogo e colocação notáveis, e exemplar concentração no modo como atacou as linhas de passe e promoveu os contactos com os avançados. Dier foi o perfeito complemento, esteve a todos os níveis impecável e ainda sacou um golo feito a Jackson com um grande corte quase em cima da baliza. Será estranho se Jardim alterar esta dupla até final do campeonato.
Mangala/Abdoulaye – os centrais portistas mostraram-se trapalhões na saída de bola, entregando-a em más condições aos colegas, isto quando não a punham directamente nos homens de verde e branco. Cada progressão em drible era um ataque cardíaco para os adeptos, tantas as vezes que a perderam ou estiveram em vias de o fazer. A juntar a isso, foram diversas as hesitações, e más abordagens. No golo, Abdoulaye perdeu completamente a noção de onde estava Slimani, e este não perdoou.
Capel/Mané – pela positiva, secaram Danilo e Alex Sandro. Pela negativa, foi notória a falta de capacidade em desequilibrar no último terço; ambos tiveram muitas incursões a explorar o espaço nas costas dos laterais, mas o último passe foi sempre mal executado. Algumas das situações em que o espanhol e Mané apareceram livres de marcação e em situação de desequilíbrio na defesa portista se tivessem outro tipo de poder de decisão teriam permitido ao Sporting criar um resultado diferente, mas para isso é preciso rapidez de execução, e habilidade a condizer.
Danilo/Cedric – o brasileiro pareceu perdido em campo, defensivamente o seu flanco foi uma auto-estrada, e ao contrário do habitual, foi uma nulidade no ataque. Cedric sofreu muito na primeira parte (ficou com os olhos trocados por mais que uma vez), mas mostrou-se mais seguro na segunda, juntando ainda algumas incursões ofensivas.
Adrien/Jefferson – Adrien joga, o Sporting joga. O médio conseguiu ter bola, libertar colegas na frente, e foi determinante na pressão exercida sobre a linha média portista (curiosamente Josué que tem tido mais oportunidades na selecção, pela 2ª vez consecutiva nem foi convocado). O lateral teve vida fácil atrás, servindo mais de extremo do que de lateral. Impressionante sprint ao fim de quase 90 minutos.
Varela/Defour – Deve contar pouco para Bento, mas chega a fazer confusão a maneira como Varela não consegue desequilibrar no 1 contra 1; já o belga hoje parecia querer bater um recorde de passes errados, o pior era que a maior parte deles até eram curtos.
Jackson/Slimani – o colombiano esteve algo só e sempre marcado de perto e impiedosamente. Das poucas vezes que se libertou, apareceu a ineficácia habitual esta temporada, falhando duas bolas a curta distância da baliza, sem Patrício por perto. Ficou demonstrado mais uma vez que muita da (má) carreira do Porto está ligada à sua relação com os golos. O argelino deu-se ao contacto, não se intimidou com as torres portistas (completamente diferente de Montero, que tem mais bola no pé), mas teve poucas chances de brilhar. A única bola de golo que teve… pô-la no fundo da baliza.
Carlos Eduardo/ Alex Sandro – O médio mais uma vez, eclipsou-se num jogo a doer. Não teve bola, escondeu-se dos colegas, e nem sequer conseguiu incomodar William Carvalho; Já o lateral, ao contrário do jogo da 1ª volta, não teve influência no jogo ofensivo.
Helton/Rui Patrício – infelicidade do brasileiro, que aparentemente sofreu uma grave lesão no tendão de Aquiles. Noite mais tranquila do que o esperado, e sem hipóteses no golo. O internacional português foi decisivo ao tirar um golo a Varela com grande intervenção, mas ia borrando a pintura na segunda, com uma má abordagem, valendo-lhe Dier (juntou a isso uma saída em que andou literalmente de gatas atrás da bola).



